quarta-feira, 28 de abril de 2010

Destino Selado

O meu primeiro dia em uma escola nova para mim seria horrível. Só que mais horrível do que o primeiro dia é se atrasar no primeiro dia. Ah! Meu nome é Elly e sou aluno da Sthanford School, uma escola de origem americana no Brasil.
Saí às pressas de casa quase correndo. Eu olhava para o relógio e me desesperava. Estava andando rápido demais quando me esbarrei num homem e quase derrubo a sua moto.
- Desculpe. – disse automaticamente.
- Não tem importância. – respondeu educadamente, abaixando-se para pegar o meu diário que caiu.
- Obrigado. – murmurei assim que ele me entregou.
- Você parece com pressa, gostaria de uma carona?
- Não, não. Obrigado. O senhor é muito gentil.
- Eu estou indo para lá também. E não sou senhor. – disse rindo.
- Como sabe para onde estou indo? – indaguei confuso.
Ele abriu a jaqueta e então eu vi sua farda. Fiz sinal que sim e subi na sua moto. A princípio fiquei com receio por que ao menos sabia o seu nome. Ele me deu um capacete rosa, provavelmente de sua namorada, mas eu fiquei com receio de perguntar.
- Como é o seu nome? – estava uma curiosidade imensa de saber o nome dele. Daquele rapaz tão lindo que uma descrição não é capaz de materializá-lo.
- Bruno.
Como disse anteriormente, não tinha como o descrever, mas eu vou tentar. A sua pele era clara e bronzeada, seus olhos eram verdes como bolas de gude, seu corpo era atlético e definido, e Bruno era dotado de uma gentileza sem igual. Resumindo, o que todas as garotas querem; Bruno é a perfeição.
Hoje realmente foi o dia das surpresas. Eu não me atrasei, o que já era de se esperar, não cheguei sem conhecer ninguém e fiquei amigo do homem mais bonito que já vi na vida.
- Mais uma vez, obrigado. – disse sorrindo levemente enquanto tirava o capacete e soltava os cabelos. – Você é muito gentil.
- Não foi nada demais.
- Então, até mais tarde.
- A gente se esbarra por aí. – Bruno soltou uma risadinha.
Depois das despedidas eu segui direto para a sala, antes que de fato ficasse atrasado. Não havia começado nenhuma aula ainda e a sala estava bagunçada, muito bagunçada para os primeiros instantes na escola. Procurei uma carteira para me sentar e aguardei o professor entrar.
Os minutos agora passavam devagar, de uma maneira que se eu saísse mais cedo poderia ter poupado muita coisa. A sala estava cheia, mas ainda era possível ver carteiras vazias. Depois de muito tédio entrou na minha sala o motivo pelo qual não me arrependo de ter supostamente me atrasado.
Creio que da primeira olhada geral ele não me percebeu, mas numa outra observada nossos olhares se cruzaram. Ele veio devagar sentar-se ao meu lado enquanto as garotas o olhavam de boca aberta.
- Como se chama? – perguntou me enfeitiçando com aqueles verdes olhos.
- Elly. – respondi um tanto confuso, mas se eu sabia o dele, por que ele não poderia saber o meu?
- Diferente. Você sabe por que esse nome? – ele demonstrava real interesse pelo assunto.
- Os médicos disseram a minha mãe que seria uma menina. Então ela pensou nos nomes pra menina, entende?
Bruno balançou a cabeça, sinalizando que sim.
- Então quando ela viu que era menino ela colocou Elly, de forma que significasse “ele”.
Ele sorriu e a todo o momento ficava puxando papo. A conversa não tinha nada que fosse realmente interesse, mas eu gostei muito de conversar com ele. Bruno me salvou do tédio.
Com a demora do professor deu tempo para conversarmos bastante, conversar de besteiras, mas foi muito bom ter com quem falar.
- Bom dia, bom dia! – chegou alertando o professor de inglês, Carlos.
Para mim as aulas passaram voando. Eu estava muito atento aos assuntos discutidos. Só despertei com os chamados e os cutucões dele.
- Já está na hora do intervalo. – Bruno me alertou.
- É obrigatório? – rebati sem a mínima vontade de descer pro pátio.
- Na verdade é, mas eu arranjei um jeito de não precisar ir pro pátio.
Ele sorria a todo o tempo, não sei de onde tirava tanto entusiasmo.
- Ficamos na sala mesmo?
- Não! Aqui nos acham.
- Então vamos para aonde? – perguntei já me irritando.
- Calma, tenho uma surpresa pra você.
- Hmmm?! Surpresa? Mas você mal me conhece...
- Eu sei, mas quero te conhecer melhor. – respondeu animado.
- Tudo bem então. – completei.
- Vem cá. – sussurrou estendendo a mão.
Segurei sua mão e parti novamente em uma aventura com ele. Bruno me guiou até um local que parecia um jardim, em uma parte escondida da escola. Era realmente muito bonito, flores e borboletas encantavam o lugar.
- Preciso que feche os olhos e que abra a boca.
Fiquei com certa desconfiança, e custou até fazer o que ele estava me pedindo.
- Vamos, confie em mim. – suplicou.
- Tenho confiado demais em você. – murmurei de mau humor.
Fechei os olhos e abri a boca, exatamente como ele pediu. Bruno colocou alguma coisa em minha boca, e tinha um gosto doce.
- Pode abrir agora.
O bombom de chocolate que ele havia me dado era muito gostoso e ainda tinha uma calda de morango que escorria pelos cantos da boca. Ele observava atenciosamente cada gesto que eu fazia, e isso me deixava um pouco sem graça.
Eu sentei e ele imediatamente faz o mesmo. Bruno agora não parava de me olhar, como se estivesse se deliciando com algo.
- Por que está me olhando assim? – perguntei me sentindo desconfortável.
- Eu... não... sei. – gaguejou.
Mas a maneira dele de olhar continuou a mesma eu já estava ficando com as bochechas rosadas.
- Não precisa ficar com vergonha. – brincou.
- Tente não ficar com uma pessoa te encarando. – ameacei-o.
- Está sujo aqui, ó.
Ele com certeza fez isso pra me abusar! Tenho certeza! E então Bruno passou o dedo onde estava melado e lambeu depois. Mas eu iria resistir à tentação.
- Posso te perguntar uma coisa? É meio indiscreta, ta? – muito indiscreta!
- Pode claro. – respondeu confuso.
- A sua namorada sabe que você está aqui?
- Hahaha! Namorada... de onde tirou isso? – rebateu.
- Então de quem é o capacete rosa?
- Ah! É um tanto complicado de explicar. Vou te contar uma história, ta bom?
- Ta.
- Há alguns meses eu gostava de uma menina que nem dava bola pra mim, mas eu amava muito ela. Eu comprei esse capacete pra ela. Ela se chama Beatriz e estuda aqui, por isso não gosto de ir para o intervalo.
- Mas e aí, como vocês ficaram? Ela namorou com você, alguma coisa rolou?
- Beatriz nem sonhava que eu gostava dela. Um dia lá em casa o meu melhor amigo pediu para namorar com ela.
- E ele não sabia? Isso é traição das piores!
- Sabia sim, pior é que ele sabia.
- E como é o nome desse menino?
- Felipe. Arghh! Dá até ódio de lembrar. E eles ainda andam agarradinhos na minha frente. Dá vontade de quebrar a cara dele.
Mas eu não prestava atenção no que Bruno dizia. Neste momento eu emergi nas lembranças que me vinham na mente junto com esse nome.
- Felipe... – sussurrei.
- Sim, o nome dele é Felipe, mas o que é que tem?
- Nada, é só o nome de um cara que eu sou... – nesse momento faltou a palavra.
- Que você é... – repetiu ansioso.
- Amigo. Apenas meu amigo.
Não era isso que ele queria ouvir. Bruno não conseguiu disfarçar certo desagrado em sua expressão.
O nosso momento de relaxamento foi interrompido pelo sinal do colégio. Acabara o intervalo. Precisávamos voltar para a sala.
- Vamos? – perguntou, quebrando o silêncio.
- Sim, claro.
Ele estendeu a mão novamente e saímos dali. Fomos para a aula lado a lado, mas ninguém falou nada; dava para perceber que essa conversa o machucara um pouco. Ou talvez bastante.
Fui para o meu lugar e ele me seguiu, já que a carteira dele ficava ao lado da minha. As últimas aulas passaram enquanto nossas mentes estavam longe dali, fomos chamados atenção algumas vezes, mas só quando o sinal tocou novamente, o que significava que acabaram as aulas por hoje, nos livramos do “transe”.
Arrumei minhas coisas devagar e de má vontade. Todos já haviam saído, só restou nós dois. Enquanto eu ia saindo da sala ele segurou minha mão.
- Não quer uma carona pra casa? – ofereceu.
- Obrigado, mas agora eu não tenho mais pressa. – comecei a rir quando lembrei do que aconteceu.
- Aceite. Antes que você derrube alguém. – brincou.
- Está me chamando de desastrado, é?
- Não, claro que não.
- Sei...
Esperei ele terminar de se arrumar e fomos juntos até a saída. Mas algo que eu não imaginava ia acontecer hoje.
Estava tudo bem até passar do estacionamento. Quando nos aproximamos do portão eu vi Felipe. Ele não era apenas amigo do Bruno e namorado da Beatriz. Ele é o menino que eu amei a minha vida toda, todinha. E nos conhecíamos desde pequenos. Eu não acreditei que eles estavam juntos.
O meu celular caiu de minhas mãos e eu parei. Meus olhos estavam arregalados e pude sentir a raiva de Bruno ao meu lado, e ele percebeu como eu estava.
- Você está bem? – perguntou colocando a mão em minha testa, para ver se eu estava com febre.
Não consegui abrir a boca pra falar, era muito difícil, eu não sabia o que fazer.
- Elly, pelo amor de Deus, me responde. Está me preocupando! – Bruno me sacudia para ver se eu despertava e nada, mas ainda não consegui falar nada.
Eu precisava correr, correr até meus pulmões explodirem; mas eu não conseguia fazer meu corpo se mover.
- Me tira daqui. O mais rápido que puder. – disse finalmente.
Nesse exato momento ele descobriu o que estava acontecendo, e fez exatamente o que eu havia pedido, deixando meu celular para trás. Bruno sabia que eu amava Felipe, e que ele havia traído meu amor com o amor dele. Não era difícil de descobrir que eu gostava dele, era só juntar o meu gaguejo na nossa conversa anteriormente e o jeito que eu fiquei quando vi os dois.
Ele me colocou encima de alguma coisa que eu nem soube identificar, só sei que era quase debaixo de uma árvore. Nesse momento havia uma constante nuvem de lágrimas sob meus olhos e eles eram inexpressivos, vazios.
Bruno olhava para mim como se sofresse junto comigo, o que era o caso, por que o seu amor também estava sendo traído.
Então ele me beijou e as minhas bochechas ficaram vermelhas. Foi um beijo quente, mais do que qualquer coisa ali, algo que eu nunca havia ganhado antes. Foi um beijo demorado, que apesar de ter sido uma consolação para nós dois foi muito carinhoso. Sua língua passeava em minha boca e eu fiquei sem ação.
- Desculpe-me. Só um pouco... – disse por fim enquanto me abraçava forte.
Eu fiquei muito feliz e muito triste com a situação. Bruno estava muito, muito triste. Isso estava estampado em seu rosto. Era quase uma tortura o que eu via.
- Bruno, você pode chorar se quiser.
- Idiota. – resmungou. – Eu vou te dizer uma coisa, eu nunca chorei na frente de ninguém desde que nasci, exceto você. Eu nunca permiti isso a ninguém, mas você me viu desse jeito.
Eu senti aquelas gotas quentes em meus ombros enquanto eu levantava e ele continuava com os braços em volta de mim. E enquanto Bruno chorava eu comecei a pensar... Ficaria tudo bem se eu pudesse ficar junto com ele para sempre. Ficaria tudo bem se eu pudesse me tornar alguém especial para ele.
Pensamentos como este foram passando pela minha cabeça, e eu fiquei ali, incapaz de soltar minhas mãos e deixa-lo ir.
No momento em que senti compaixão por esse coração apaixonado, meu destino estava selado.